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Com uma implantação histórica no Vale do Ave, o têxtil transformou a região e foi testemunha fiel dos principais episódios que, ao longo de quarenta anos, deram forma à democracia. O sector entusiasmou-se com o fulgor reivindicativo despoletado pela revolução de Abril, surpreendeu-se com as transformações impostas pela adesão à CEE, e reagiu aos desafios lançados pela abertura aos mercados globalizados. Agora é na tecnologia que projecta um futuro vanguardista, através do qual espera reinventar-se. 

TRANSFORMAÇÃO

   Durante décadas o têxtil foi um dos protagonistas do tecido económico do Vale do Ave. Foram muilhares os trabalhadores da região que passaram pelo sector. Com as vidas marcadas pelo búlicio de uma indústria em transformação, acompanharam fases decisivas do têxtil. Entre elas, a democratização. Volvidos quarenta anos desse marco na história nacional, o têxtil não é o mesmo do passado. De Braga até Famalicão, desfiámos dois casos que dão conta dos diferentes percursos das empresas da região. Histórias e testemunhos que tecem a malha em que o têxtil hoje se expande.

 

 

   No edifício centenário que dá lugar à sede da Associação Maconde, sonho que, pela persistência, conseguiram tornar realidade, recebem-nos com um sorriso aberto. Da velha fábrica, cujos escombros se vislumbram para lá da estrada, já só guardam as memórias e um nome, pelo qual trabalham diariamente.

   Olga Domingues, Lúcia Ribeiro e Abílio Gomes são membros da direcção da instituição que hoje acolhe cerca de 180 crianças da comunidade envolvente. Inicialmente pensada para os filhos dos trabalhadores têxteis, a creche foi o ponto alto de um tempo de conquistas inaugurado pelo 25 de Abril.

   Olga lembra “o alvoroço” que a revolução constituiu, mesmo para quem já gozava de condições invulgares para a época: “Os patrões, como eram holandeses, tinham uma maior preocupação social, e até criaram condições para aquecermos a comida“. "Quando a fábrica fazia anos havia um carrinho a dar bolo”, acrescenta Abílio Gomes.

   A primeira comissão sindical da Maconde formou-se logo após a revolução. Conseguiram médicos, para eles e para os filhos. E quando viram a nova liberdade sindical posta em causa pela entidade patronal, não hesitaram em provar a força que então tinham. “Em Setembro de 76, fizemos uma greve de 63 dias. E não foi pelas condições de trabalho, mas porque a administração se opôs à realização de um plenário sindical”, esclarece Olga. Um episódio elucidativo da união vivida pelos trabalhadores na altura, o que lhes permitiu resolver facilmente a situação.

   É surpreendente a clareza com que percorrem as memórias desse tempo marcado por grandes inquietações.

   A Maconde foi mantendo o crescendo, assegurando um império de 37 fábricas e um vasto grupo de lojas a nível nacional e internacional. Só em meados de 1990 é que começou a dar sinais de quebra, em resultado da reestruturação que entretanto sofrera. Com a subida dos níveis salariais, os holandeses viraram-se para os países de mão-de-obra barata, e a empresa foi entregue a gestores portugueses. “O grande problema foi quando a Maconde passou para a mão dos portugueses, porque eram muitos a comer e até desconfiavam uns dos outros”, explica, com alguma revolta, Abílio. Para o antigo afinador de máquinas, foi a ganância dos novos administradores que os impediu de apostar na modernização da empresa, desperdiçando os incentivos que a entrada na Comunidade Europeia proporcionara: “Compraram máquinas para justificar os apoios, mas elas nem chegaram a estar aqui cinco anos, como era suposto". "Pegaram nelas e levaram-nas para Marrocos”, acrescenta.

 

   Passo a passo, a degradação foi-se instalando. Os sucessivos recursos à banca levaram a uma inevitável descapitalização. E, em 2006, quando a fábrica fechou, já muitos trabalhadores tinham saído, aliciados pelas propostas de acordo que a administração vinha apresentando. Foi o caso de Lúcia, que, adivinhando o fracasso iminente da empresa, antecipou a saída. Apesar do desfecho triste, a antiga chefe de qualidade não duvida de que foi um tempo feliz aquele que viveu na fábrica. “Quem me dera voltar!”, desabafa. Nove anos depois da despedida, desafiámo-la para um reencontro.

José Manuel Lopes Cordeiro

Director do Museu da Indústria Têxtil da Bacia do Ave, José Manuel Lopes Cordeiro tem investigado as transformações do sector na região. Recuperando as mudanças impostas pela revolução do 25 de Abril, o especialista chama a atenção para o "mercado artificial" em que actuavam as velhas indústrias, durante o Estado Novo. No seu entender, foi esta a principal causa da dificuldade de adaptação das empresas.

Historicamente, a região do Vale do Ave concentrou muitas indústrias têxteis. Com a revolução do 25 de Abril, o sector trasnformou-se. Na sua perspectiva, como se deu essa transição?

 

Os problemas que o têxtil enfrentou a seguir à revolução já vinham de trás. As empresas históricas, no Estado Novo, beneficiaram de factores que desincentivaram o investimento. Nessa altura, os mercados de exportação eram protegidos e os salários eram muitos baixos. A crise do petróleo em 1973 e a revolução de 1974 impõe algumas dificuldades a estas empresas. Os trabalhadores adquirem novos direitos, tornam-se mais reivindicativos, e as empresas não conseguem dar-lhes resposta. Consequentemente, começam a endividar-se junto da banca, e muitas acabam mesmo por falir. E, a entrada de Portugal na União Europeia também não favoreceu as empresas históricas, que desaparecem em grande número na década de 90. Claro que também houve uma segunda geração de fábricas, fundada nos anos 20 do século XX, geridas por menos pessoas, que têm conseguido resistir. Embora, hoje em dia, predomine uma imagem negativa da indústria do Vale do Ave, existem fábricas que estão na vanguarda da tecnologia têxtil. Estão numa fase muito boa, porque conseguem exportar para mercados internacionais exigentes. Aqui está o futuro destas indústrias.

 

Com a adesão de Portugal à CEE, em 1986, o que mudou no sector têxtil?

 

O país não se preparou convenientemente para a aplicação dos fundos europeus, de maneira que se desbaratou muito dinheiro. Há muitos casos de corrupção, o que é lamentável ... As empresas não souberam proteger-se da livre concorrência. Por outro lado, esta situação também resulta da orientação económica da União Europeia, que privilegia os interesses das potências mais fortes. Não tenhámos ilusões! Aquilo que interessava à UE não era o sector têxtil mas a exportação de maquinaria. E Portugal não tinha qualquer expressão a esse nível. Mas, o que acho surpreendente é que algumas empresas conseguiram singrar neste contexto adverso e ter sucesso.

 

Consegue explicar essa situação?

 

Creio que isso se deve a uma nova geração de fábricas, geridas por uma nova geração de empresários. São pessoas mais jovens, com mais formação e com outra abertura. Mas, só com um estudo aprofundado do sector é que conseguiremos confirmar, ou não, estes factos.

 

Apesar do perfil qualificado do novo trabalhador têxtil, o curso de Engenharia Têxtil da Universidade do Minho, que existia desde 74, fechou recentemente. E isto numa altura em que as empresas estão a recrutar novos engenheiros. Não lhe parece uma situação paradoxal?

 

De certa forma, deixou de se apostar na formação inicial e começou a prestar-se apoio a outro nível. A universidade continua envolvida, por exemplo, com o Citeve, que é uma instituição fundamental, e que proporciona esse tipo de apoio às fábricas da região. Mas, provavelmente, há um excedente de engenheiros têxteis no mercado, que justifica o fecho temporário destes cursos. No entanto, Portugal não pode deixar de valorizar o conhecimento adquirido durante mais de 150 anos.

 

Como é que o têxtil nacional pode aumentar a competitividade?

 

A formação continua é indispensável. Mas, também é importante investir mais no design dos produtos. E Portugal tem evoluído nesse sentido. Muitas fábricas começam a dar atenção aos têxteis técnicos, que são, de facto, o futuro do têxtil, até porque este sector tem inúmeras aplicações. Mas, estes segmentos são muito qualificados. E aqui, a universidade tem um papel importante, porque deve ser capaz de responder às novas exigências do mercado.

 

Quando projectou o Museu da Indústria Têxtil, em 1987, pensou numa estrutura polinuclear. Mas, apenas a autarquia de Vila Nova de Famalicão avançou com o projecto, que está lá situado. Não esperava um maior envolvimento por parte das restantes autarquias convidadas?

 

Quando apresentamos o projecto, ele foi extremamente bem recebido. Mas, as autarquias não conseguiram unir-se, porque cada uma queria o museu no seu território. E, quando Famalicão avançou com o projecto, as outras autarquias entenderam que o museu era de Famalicão e demitiram-se. Esta situação mantém-se e impede que o projecto consiga afirmar-se a outros níveis. Além disto, está em causa a designação do museu, como sendo da Bacia do Ave. E, embora o orçamento só seja suportado pela autarquia de Vila Nova de Famalicão, o que nos condiciona, nós trabalhamos para todo o Vale do Ave. Mas, acredito que as coisas podem melhorar.

 

O têxtil é um sector com futuro?

 

O têxtil tem futuro, nomeadamente na Bacia do Ave, como se comprova. Mas tem de se apostar noutra indústria que, aliás, está já em curso. É uma indústria que incorpora um forte know-how, e com uma enorme capacidade de inovação.

 

Nessa nova indústria, há lugar para os desempregados têxteis?

 

Provavelmente, não… O grande problema é que a maioria dos desempregados têxteis são pessoas com mais de 45/50 anos, e sem grandes qualificações. Os conhecimentos que têm já não se aplicam à nova indústria. A alternativa pode passar por formações. Mas, não sei se será possível fazê-lo à escala do actual número de desempregados. O Estado tem de intervir neste problema, não se pode demitir das suas responsabilidades. Tem de subsidiar as pessoas, e valorizar a sua experiência. 

COMUNIDADE

   As transformações da indústria têxtil tiveram um impacto na estrutura de produção das empresas. As evidências destas alterações acentuaram-se na primeira década do novo milénio, em resultado da liberalização mundial do mercado têxtil.

   Para além do têxtil, algumas das principais empresas da região deram origem a importantes projectos sociais. Com um papel decisivo na vida de muitos trabalhadores, a Maconde e a Riopele são exemplos da força agregadora do sector.

 

JOCA: de herói do clube

                   a electricista da fábrica

   Sorridente e com 69 anos, que a aparência omite, mantém o vigor de um jovem. Com uma vida repleta de aventuras felizes, assume-se um “homem bafejado pela sorte”. Antiga glória do Clube Desportivo do Riopele, passou pelo Clube Desportivo das Aves e pelo Sporting Clube de Braga. Mas, foi com as cores do Riopele que Joca se afirmou como um dos mestres do futebol “tiki taka”. Triunfos dentro e fora de campo, que fazem dele, hoje, um homem “feliz e muito satisfeito com a vida”. Ei-lo, Jorge Rodrigues Osório.

   Filho de pai português e de mãe cabo-verdiana, o “escurinho”, como é carinhosamente tratado pelos amigos, nasceu em África a 11 de Setembro de 1945. Nas ruas de Cabo Verde, cedo descobriu que queria ser jogador de futebol, mas os pais nem sempre apoiaram. “Eu levava muita porrada dos meus pais por jogar à bola, porque eles queriam que eu estudasse mais”, partilha Joca, soltando uma gargalhada.

   Chega a Portugal pela primeira vez aos 19 anos e instala-se na Figueira da Foz. O serviço militar fá-lo regressar a África, onde cumpre missão durante quatro anos. Vencida esta etapa, aos 23 anos decide viver em Braga. E, é nesta cidade que lhe surgem as primeiras oportunidades no futebol, onde se lança profissionalmente por iniciativa do amigo Zenite. A seu convite, integra o plantel do Desportivo das Aves, em 1968. Daí passa para o SCBraga, mudando-se em 71 para o GD Riopele. Há-de regressar no ano seguinte para ajudar os arsenalistas a subir de divisão. No ano da Revolução, ruma novamente ao Riopele, iniciando uma etapa que o marcará para a vida.

    A par das muitas vitórias no futebol, o recinto do campo do CD do Riopele é palco de outras conquistas, pessoais e amorosas. É aqui que faz “amigos para vida” e conhece a mulher com quem viria a partilhar a vida e dois filhos. Uma conquista que não foi fácil.

   Filha do dono da “tasquinha” onde o plantel do Riopele se reunia no fim dos jogos, Maria Vilela despertou o interesse de Joca. Apaixonado, o “escurinho” teve de enfrentar o pai dela. “Ele não gostava de mim porque eu era jogador de futebol e era preto”, explica, divertido e sem rodeios.

   Dos relvados para a fábrica, Joca pendura as chuteiras aos 34 anos, altura em que passa a exercer funções como electricista na Riopele, empresa onde a sua mulher ainda hoje trabalha. “Bem-recebido”, o electricista reconhece que foi um “privilegiado”, não só pelo seu empenho profissional, mas também pelo seu percurso no futebol. “Um jogador conhecido nos quadros técnicos de uma empresa têxtil chama a atenção”, explica Joca.

   Electricista de referência dos administradores da Riopele, ia com eles de férias para a Póvoa de Varzim durante três meses.          Apesar das regalias, Joca admite que cumpria “rigorosamente” com as suas funções. O “empenho” e a  “persistência” são, aliás, algumas das características os amigos lhe reconhecem. “Dificilmente se encontra alguém tão eficiente e dedicado como ele”, partilha Vital, antigo jogador do Riopele e amigo de Joca.

   Conheceram-se no campo do Riopele e ainda hoje se mantêm ligados por ele. Actualmente, são responsáveis por uma escola de formação de jogadores, “Os Vitalinhos”, que treinam nesse espaço. “Homem de bom astral e muito optimista”, Joca é “um excelente treinador”, com quem Vital tem aprendido muito, reconhece o antigo atleta. Com dificuldade em encontrar-lhe defeitos, Vital admite que Joca é “teimoso”, embora seja “capaz de ceder quando realmente não tem razão”.

   Com igual carinho, Piruta, outro dos heróis do CD Riopele, confessa que “o Joca podia ser mais um amigo, como tantos outros, mas não, ele é um pretinho mesmo muito especial”.

   O antigo craque do futebol distrital dedica-se hoje à actividade de electricista e à formação de futuros atletas. As visitas ao campo das muitas glórias são diárias. Com o Riopele no coração e na vida, Joca sonha agora poder voltar a ver as cores do clube desfilar pelo campo. Um desejo no qual garante continuar a investir. 

DESEMPREGO

   Descobriram o têxtil numa fase em que o sector “dava emprego a toda gente”. O desmoronar dos antigos impérios do Vale do Ave arrastou-os para um desemprego que lhes anula perspectivas de um futuro profissional. A idade avançada ou a falta de formação impedem-nos de regressar ao sector. As fábricas modernizaram-se e as máquinas substituíram muitas das funções destes antigos operários. Testemunhas de uma indústria em transformação, são os rostos do actual desemprego têxtil da região. Com as vidas suspensas, muitos já só pensam na possibilidade da reforma, que para alguns é apenas uma miragem.

A recessão económica do sector reflecte-se numa significativa redução do número de trabalhadores.

INOVAÇÃO

citeve - uma aposta no futuro do têxtil
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   Com uma história secular, o têxtil modernizou-se e começou a apostar em novas áreas. Hoje são inúmeras as aplicações desta indústria. A inovação desenvolvida pelo Citeve, Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário, situado em Vila Nova de Famalicão, desempenha um papel central na modernização das empresas do Vale do Ave.

   O aumento do nivel de exigência do consumidor levou a uma intensa segmentação do mercado, diversicando as áreas de aplicação da indústria têxtil. O reforço do sector da inovação foi acompanhado de uma grande aposta nos têxteis técnicos. 

   As previsões do público geral quanto ao futuro do têxtil são variáveis. As opiniões dividem-se entre a convicção na capacidade de sobrevivência da indústria, através da aposta na diferenciação de produtos, e o descrédito total, decorrente dos elevados índices de desemprego têxtil da região.

Projecto de Jornalismo - Universidade do Minho - 2014
Autoras: Cátia Ferraz e Filipa Pereira

 

dofioameada@gmail.com

 

 

 

 


 

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Transformação

Nem sempre os fios se entrelaçaram na malha

   As conquistas democráticas transformaram o têxtil e lançaram-no num ambiente marcado por fortes paradoxos. Enquanto algumas empresas souberam rentabilizar as novas oportunidades liberais, sofisticando-se, outras ficaram reféns de um passado que as impediu de progredir. Das que desapareceram restam apenas as memórias. E para as que singraram, a aposta nos mercados internacionais e o reforço da exportação são, para já, alguns dos cenários mais apontados. Ainda assim, os anos de história do têxtil na região do Vale do Ave fazem dela uma referência inegável para o sector.

"O têxtil tem futuro no Vale do Ave, mas é preciso apostar na nova indústria"

VOX POP: Acha que o têxtil tem futuro em Portugal?

Filipa Pereira
Menú

   Se para muitas empresas têxteis, os constrangimentos impostos pelo projecto europeu e, mais tarde, a efectivação da abertura dos mercados globais foram uma fatalidade incontornável, outras houve que conseguiram resistir.

   A pouco mais de dez quilómetros da Maconde, encontramos a Riopele. Quem chega a Pousada de Saramagos, no concelho de Vila Nova de Famalicão, surpreende-se com os enormes pavilhões verdes que ladeiam a estrada de acesso a Guimarães. Esta extensão é para nós o primeiro indício da dimensão da empresa, confirmado logo à chegada pela equipa de técnicas de recursos humanos que nos espera. Através de um meticuloso planeamento, providenciam-nos o acesso a um leque seleccionado de colaboradores, que nos vem a desvendar o trajecto bem-sucedido da Riopele.

   Da fiação aos acabamentos, a empresa assegura todas as fases do processo de produção têxtil. Para Bernardino Carneiro, responsável pela gestão financeira, este é um dos principais factores para o êxito da Riopele. A aposta na qualificação da mão-de-obra e na inovação do produto têm favorecido os bons resultados.

   No entanto, o processo de readaptação da empresa trouxe consequências para os trabalhadores. A contenção salarial e os despedimentos em larga escala são disso exemplo. Bernardino Carneiro entende estas medidas como imperativos de um período menos favorável. “Para a empresa conseguir cumprir os seus compromissos, algumas pessoas tiveram de ser despedidas”, esclarece o colaborador.

   Também José Alexandre Oliveira, presidente da administração, entende essa situação como inevitável, até porque dela “estava dependente a subsistência da empresa”. Quando aqui chegou, a Riopele tinha quatro mil trabalhadores. “Era uma aldeia muito grande”, recorda. Hoje o cenário é bastante diferente.

   Mais orientada para o cliente e para a inovação do produto, a Riopele tem vindo a apostar numa produção moderna e sustentável. As preocupações com a sustentabilidade e a atenção às normas de higiene e segurança no trabalho dão corpo a uma nova forma de olhar o produto, atribuindo-lhe valor acrescentado.

   A visita às unidades de fiação e de tecelagem da fábrica famalicense é bem elucidativa desta transfiguração. O ruído das máquinas é hoje substancialmente menor do que há umas décadas. Ainda assim, de uma intensidade avassaladora, que as protecções auriculares apenas eufemizam. Pelos pavilhões se estendem bobinadeiras e teares, sofisticados e de grande automatização. Ao contrário do que esperávamos, instigadas pelas imagens históricas de tecelagens apinhadas de gente, fomos encontrar um número bastante reduzido de operários. A maioria são jovens e com um significativo grau de qualificação. Cada um é responsável por uma multiplicidade de máquinas, que monitoriza intensivamente, antecipando e corrigindo quaisquer irregularidades.

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